O que você faria ao acordar e descobrir que o mundo acabou e que apenas oito pessoas sobreviveram?
Vários jogos lidam com a realidade após o fim do mundo, e a série Fallout é uma das mais emblemáticas. Porém, Zanki Zero é uma experiência única. Criado a partir de um conceito que surgiu durante a criação de um outro game, a ideia ficou engavetada por anos até que surgiu o momento ideal para desenvolver o projeto.
Um grupo de oito pessoas acordam em uma ilha, que eles descobrem ser as ruínas da cidade em que eles habitavam. Ao se reunirem em uma garagem e após se apresentarem uns aos outros, uma TV começa a exibir uma gravação com dois mascotes explicando a situação: o mundo acabou e a humanidade foi extinta, inclusive eles! Todos os membros do grupo foram clonados, com seus códigos genéticos e memórias arquivados em aparatos em forma de X localizados em seus umbigos, chamadas de X-Keys. Porém, seus corpos envelhecem rapidamente e em 13 dias eles podem morrer de velhice – mas está tudo bem, basta clonar novos corpos em uma máquina misteriosa chamada “Extend Machine” utilizando as X-Keys. Nesta situação absurda, o grupo se vê obrigado a explorar ruínas para encontrar pistas do que aconteceu, suprimentos para sobreviverem e peças para aprimorar a Extend Machine e, possivelmente, solucionar a questão dos dias contados. Para piorar a situação, as ruínas são habitadas por animais selvagens e monstros, além dos mascotes provocarem cada um deles com seus piores traumas.
A premissa parece ser complicada, mas é explicada de maneira fácil e coesa durante o jogo em formato de visual novel com muitos diálogos e momentos em primeira pessoa expondo os pensamentos do personagem controlado – quase todos os personagens tem um capítulo dedicado a sua história e seu passado, superando seus traumas e expondo seus “pecados”, com uma trama principal englobando toda a narrativa; por que o mundo acabou? Quem está por trás das gravações e quais as suas intenções? Há alguma maneira de resolver as limitações dos corpos clonados? Quem é o traidor entre eles? Cada um dos personagens tem suas motivações e conflitos, com momentos de introspecção e humor. Sempre há alguma coisa acontecendo, prendendo a atenção do jogador e se perguntando o que acontecerá em seguida.
A ideia dos corpos dos personagens ser “descartável” faz parte da mecânica do jogo: Com oito personagens, enquanto uma pessoa sobreviver e voltar para a garagem é possível reviver os outros, e cada morte única oferece bônus para a próxima rodada. Além disso, cada estágio da vida (criança, adulto, meia-idade e velho) tem vantagens e desvantagens como força, velocidade e resistência, sendo importante levar estes fatores em consideração ao explorar as localidades. Além disto, elementos comuns em jogos de sobrevivência como inventário limitado, peso que cada personagem é capaz de carregar, fome, hemorragias e até mesmo vontade de ir ao banheiro interferem na disposição do grupo. Existe a possibilidade de diminuir a dificuldade para aqueles que querem focar em apreciar a história, mas os níveis mais intensos podem ser bem desafiadores.
O jogo em si é um dungeon crawler em primeira pessoa, similar a série Shin Megami Tensei, mas é um pouco mais “pesado” para controlar e foca em um clima de terror em certos momentos, com uma atmosfera opressiva e escura na maior parte das ruínas. O combate é realizado no mapa e em tempo real, com cada um dos membros ativos atacando um após o outro com algumas táticas como ataque especial ou combinado, mas cabe ao jogador mirar em pontos fracos ou sair do caminho para esquivar dos ataques dos monstros. Há um sistema de experiência e níveis, como a maioria dos RPGs, em que é possível adquirir habilidades para ajudar no combate ou em outros aspectos importantes para a sobrevivência do grupo, como preparar itens de cura ou comida.
Com o foco em sobrevivência, o ambiente é bem efetivo apesar dos gráficos relativamente simples. O título foi feito por uma empresa de porte médio, com recursos limitados, e talvez seja o fato que há uma versão para o Vita no Japão, que limitou ainda mais a produção, mas o produto final é de alta qualidade em termos de apresentação.
Entretanto, houve uma controvérsia ao lançar o jogo no ocidente: censura. Neste jogo os personagens tem diálogos opcionais, explorando suas relações e amizade entre si. Não é algo necessário para a história, apenas desenvolvimento e um pouco mais de conversação. Ao maximizar a amizade, dois personagens podem ter uma conversação mais romântica, com os envolvidos vestindo roupas íntimas. A versão ocidental apenas removeu a possibilidade de ativar as cenas com os personagens no estágio de “criança”. Também foi decidido modificar o visual de uma cena para evitar mostrar a calcinha de uma personagem aparentemente menor de idade. Fora isso, todo o conteúdo do jogo está intacto: violência, cenas sugestivas envolvendo adultos, menções a drogas e bebidas, além de assuntos muito mais delicados como suicídio. É um jogo que trata de temas maduros, mas sem ser vulgar.
Para aqueles que gostam de jogos de sobrevivência, dungeon crawlers ou histórias marcantes, Zanki Zero é um game intrigante e envolvente, com reviravoltas surpreendentes e com muitos segredos para descobrir.
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