Mistérios policiais sempre cativaram audiência , não importa a mídia em que são produzidos. Livros, rádio, televisão... É até um pouco surpreendente que o gênero tenha poucos títulos de relevância no mercado. Talvez apostando neste nicho que a Square Enix aceitou publicar um game de um pequeno estúdio chamado Airtight Games, que tinha uma premissa interessante e um detalhe para diferenciar de L.A. Noire : o seu personagem começa morto.
A morte é o começo de tudo |
Ronan O'Connor era um policial da cidade de Salem, mas nem sempre foi assim: por muito tempo ele foi um criminoso envolvido com delitos como furto e roubo de carro , e para cada um destes atos ele fazia uma tatuagem comemorativa. Até quem um dia ele se apaixonou por uma moça e resolveu mudar de vida, se tornando um tira. Após a morte de sua esposa, Ronan se tornou cada vez mais ousado e até mesmo imprudente ao ponto de ir checar uma dica sobre um suspeito de ser um serial killer que está aterrorizando a cidade, o Bell Killer. O detetive foi confrontar o possível assassino sem reforços e acabou morto. Para poder descansar em paz Ronan precisa descobrir quem o matou e colocar um fim a este criminoso. Para isto ele conta com seus poderes - vários relacionados com as habilidades que ele já possuía em vida - e com a ajuda de Joy, uma garota com poderes psíquicos que está procurando pela mãe.
Mais uma investigação começa, mas não é como as outras que Ronan estava acostumado |
A parte investigativa remete aos seriados policiais : o jogador tem que procurar pelas evidencias, qualquer pista que possa fornecer informações relevante ao caso. Algumas são coisas bem mundanas, comuns; outras vezes os poderes de Ronan ajudam a ver vestígios do passado como em um flashback contando o que aconteceu. Há sempre um medidor no final da tela mostrando quantas pistas foram encontradas então sempre é possível ter uma noção se ainda tem mais alguma coisa relevante no lugar. Ao concluir a investigação em alguns momentos Ronan faz o raciocínio por conta, mas há momentos em que o jogador tem que escolher as informações que são importantes como em um quebra-cabeça. As vezes esta mecânica parece que o jogo está testando se o jogador está prestando atenção na história, porém tem ocasiões que isto funciona muito bem.
Real e fantasmagórico se misturam em Salem |
Como fantasma, Ronan pode atravessar paredes mas ele também tem outros poderes. Como os já citados poderes relacionados a investigação, ele também pode possuir pessoas para ler suas mentes ou influencia-las, além de ser possível brincar de poltergeist. Nem sempre ser um fantasma é tão bom assim, já que há suas limitações: pessoas não podem ver ou falar com ele, e há os cenários fantasmas bloqueando a passagem. Um fenômeno que os estudiosos do assunto falam é que os espíritos se locomovem seguindo as próprias regras, como por exemplo 'ver' a casa como costumava ser anos atrás e por isto as paredes são irrelevantes, mas em outros momentos eles seguem padrões que não fazem muito sentido. Isto é especialmente válido para Ronan que vê vestígios de como Salem era na época em que as bruxas foram julgadas.
Esta é também uma explicação do porquê há lugares limitados para serem explorados: por causa do medo de fantasmas (Salem tem uma história muito ligada ao sobrenatural) muitas casas foram benzidas e com isto os espíritos não podem entrar a menos que tenha uma porta ou janela aberta. Isto significa que o universo do jogo é extremamente limitado, se resumindo a cidade que funciona como um centro e os lugares relacionados a história e é só. Não há nenhum lugar desnecessário ou muito o que explorar. Os casos extras podem ser encontrados e finalizados antes mesmo da segunda localidade do jogo.
Os confrontos são a pior parte do jogo |
Pelo menos ser morto pelos demônios não é um grande problema, exceto pelo fato de ter que voltar para o checkpoint anterior e ter que se livrar de todos eles novamente. Chega a ser muito frustraste ao ponto de quando se ouve o som característicos dele já estar de saco cheio. Pelo menos estes momentos são curtos, mas o estúdio poderia ter pensado em alguma solução melhor.
Ao menos as 'missões de escolta' não são tão ruins, basta fazer o Ronan distrair os vivos para que a Joy vá automaticamente onde ela precisa ir, e enquanto ela tiver em pontos seguros ela nunca será encontrada. Sendo uma das poucas pessoas capazes de ver fantasma, é também uma das poucas que Ronan irá interagir durante toda a aventura. Há alguns fantasmas aqui e ali, mas nada muito importante até o final do jogo. A limitação de pessoas para interagir também chega a ser um problema para alguns, mas as vezes para se contar uma história não é necessário um elenco muito grande e muitos fantasmas tem coisas interessantes a dizer sobre suas vidas e mortes. Como se trata de um mundo limitado, até que faz sentido.
As vezes é difícil saber quem é o sidekick de quem |
A parte sonora é composta por faixas bem sombrias, de acordo com o clima geral do jogo, cortesia do premiado Jason Graves. Não é uma trilha para ficar ouvindo sempre, mas combina com os momentos e nunca será inconveniente -- há inclusive momentos pontuais de silencio, que é tão importante quando bem aplicado quanto uma boa música.
Apesar de se passar nos dias atuais o clima 'noir' é bem notável |
Murdered : Soul Suspect é um jogo com boas ideias e uma execução decente, com uma narrativa fluida e histórias extras interessantes. Porém ele sofre por ser muito curto (umas 10 horas de duração) com pouco valor de replay e é bastante fácil apesar da falsa dificuldade causada pelos inimigos. Depois de terminar a história principal a menos que o jogador queira platinar não há absolutamente nada o que fazer no jogo: nenhuma side-quest que precise de dedicação, nada que prenda por muito tempo, absolutamente nenhum bonus. É um produto de uma empresa pequena formada por veteranos da industria e é bem visível que eles sabiam o que queriam mas provavelmente não tiveram os recursos ou o tempo necessário. Vale um final de semana para quem quiser uma história interessante e não se importe se o jogo não tiver muita ação.
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