Review - Murdered : Soul Suspect (PS3)


Mistérios policiais sempre cativaram audiência , não importa a mídia em que são produzidos. Livros, rádio, televisão... É até um pouco surpreendente que o gênero tenha poucos títulos de relevância no mercado. Talvez apostando neste nicho que a Square Enix aceitou publicar um game de um pequeno estúdio chamado Airtight Games, que tinha uma premissa interessante e um detalhe para diferenciar de L.A. Noire : o seu personagem começa morto.

A morte é o começo de tudo

Ronan O'Connor era um policial da cidade de Salem, mas nem sempre foi assim: por muito tempo ele foi um criminoso envolvido com delitos como furto e roubo de carro , e para cada um destes atos ele fazia uma tatuagem comemorativa. Até quem um dia ele se apaixonou por uma moça e resolveu mudar de vida, se tornando um tira. Após a morte de sua esposa, Ronan se tornou cada vez mais ousado e até mesmo imprudente ao ponto de ir checar uma dica sobre um suspeito de ser um serial killer que está aterrorizando a cidade, o Bell Killer. O detetive foi confrontar o possível assassino sem reforços e acabou morto. Para poder descansar em paz Ronan precisa descobrir quem o matou e colocar um fim a este criminoso. Para isto ele conta com seus poderes - vários relacionados com as habilidades que ele já possuía em vida - e com a ajuda de Joy, uma garota com poderes psíquicos que está procurando pela mãe.

Mais uma investigação começa, mas não é como as outras que Ronan estava acostumado

A parte investigativa remete aos seriados policiais : o jogador tem que procurar pelas evidencias, qualquer pista que possa fornecer informações relevante ao caso. Algumas são coisas bem mundanas, comuns; outras vezes os poderes de Ronan ajudam a ver vestígios do passado como em um flashback contando o que aconteceu. Há sempre um medidor no final da tela mostrando quantas pistas foram encontradas então sempre é possível  ter uma noção se ainda tem mais alguma coisa relevante no lugar. Ao concluir a investigação em alguns momentos Ronan faz o raciocínio por conta, mas há momentos em que o jogador tem que escolher as informações que são importantes como em um quebra-cabeça. As vezes esta mecânica parece que o jogo está testando se o jogador está prestando atenção na história, porém tem ocasiões que isto funciona muito bem.

Real e fantasmagórico se misturam em Salem

Como fantasma, Ronan pode atravessar paredes mas ele também tem outros poderes. Como os já citados poderes relacionados a investigação, ele também pode possuir pessoas para ler suas mentes ou influencia-las, além de ser possível brincar de poltergeist.  Nem sempre ser um fantasma é tão bom assim, já que há suas limitações: pessoas não podem ver ou falar com ele, e há os cenários fantasmas bloqueando a passagem. Um fenômeno que os estudiosos do assunto falam é que os espíritos se locomovem seguindo as próprias regras, como por exemplo 'ver' a casa como costumava ser anos atrás e por isto as paredes são irrelevantes, mas em outros momentos eles seguem padrões que não fazem muito sentido. Isto é especialmente válido para Ronan que vê vestígios de como Salem era na época em que as bruxas foram julgadas.
Esta é também uma explicação do porquê há lugares limitados para serem explorados: por causa do medo de fantasmas (Salem tem uma história muito ligada ao sobrenatural) muitas casas foram benzidas e com isto os espíritos não podem entrar a menos que tenha uma porta ou janela aberta. Isto significa que o universo do jogo é extremamente limitado, se resumindo a cidade que funciona como um centro e os lugares relacionados a história e é só. Não há nenhum lugar desnecessário ou muito o que explorar. Os casos extras podem ser encontrados e finalizados antes mesmo da segunda localidade do jogo.

Os confrontos são a pior parte do jogo
O ambiente limitado não é o pior aspecto do jogo, mas sim os inimigos. Existem demônios em Salem, espíritos corrompidos que irão atacar Ronan assim que o virem então a única opção é se esconder. No entanto é possível se livrar deles com stealth kill em uma mecânica que não funciona tão bem quanto deveria. Há momentos que para conseguir pegar um oponente de surpresa é atravessar uma parede enquanto ele estiver passando, mas as vezes o poder de ver através das paredes não oferece uma boa noção e é não é incomum acabar esbarrando no monstro e precisar correr e tentar se esconder, tentando confiar em uma outra sub-mecânica que também não funciona muito bem a maior parte do tempo.  Isto sem falar nos momentos que o prompt não aparece.
Pelo menos ser morto pelos demônios não é um grande problema, exceto pelo fato de ter que voltar para o checkpoint anterior e ter que se livrar de todos eles novamente. Chega a ser muito frustraste ao ponto de quando se ouve o som característicos dele já estar de saco cheio. Pelo menos estes momentos são curtos, mas o estúdio poderia ter pensado em alguma solução melhor.

Ao menos as 'missões de escolta' não são tão ruins, basta fazer o Ronan distrair os vivos para que a Joy vá automaticamente onde ela precisa ir, e enquanto ela tiver em pontos seguros ela nunca será encontrada. Sendo uma das poucas pessoas capazes de ver fantasma, é também uma das poucas que Ronan irá interagir durante toda a aventura. Há alguns fantasmas aqui e ali, mas nada muito importante até o final do jogo.  A limitação de pessoas para interagir também chega a ser um problema para alguns, mas as vezes para se contar uma história não é necessário um elenco muito grande e muitos fantasmas tem coisas interessantes a dizer sobre suas vidas e mortes. Como se trata de um mundo limitado, até que faz sentido.

As vezes é difícil saber quem é o sidekick de quem
Os gráficos são do padrão esperado da geração, nada de extraordinário. Há umas texturas muito boas, mas os modelos dos personagens não pertinentes ao enredo podem ser pouco detalhados e também falta variação. Em compensação os cenários são cheios de detalhes e embora sejam bem escuros (o jogo inteiro se passa em uma noite) dá para ver o nível de cuidado. Salem tem vários pontos de referencia e nunca um beco parece igual ao outro. Inclusive há vários items colecionáveis espalhados, estimulando o jogador a ficar atento.
A parte sonora é composta por faixas bem sombrias, de acordo com o clima geral do jogo, cortesia do premiado Jason Graves. Não é uma trilha para ficar ouvindo sempre, mas combina com os momentos e nunca será inconveniente -- há inclusive momentos pontuais de silencio, que é tão importante quando bem aplicado quanto uma boa música.

Apesar de se passar nos dias atuais o clima 'noir' é bem notável

Murdered : Soul Suspect é um jogo com boas ideias e uma execução decente, com uma narrativa fluida e histórias extras interessantes. Porém ele sofre por ser muito curto (umas 10 horas de duração) com pouco valor de replay e é bastante fácil apesar da falsa dificuldade causada pelos inimigos. Depois de terminar a história principal a menos que o jogador queira platinar não há absolutamente nada o que fazer no jogo: nenhuma side-quest que precise de dedicação, nada que prenda por muito tempo, absolutamente nenhum bonus. É um produto de uma empresa pequena formada por veteranos da industria e é bem visível que eles sabiam o que queriam mas provavelmente não tiveram os recursos ou o tempo necessário. Vale um final de semana para quem quiser uma história interessante e não se importe se o jogo não tiver muita ação.


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