Review - Legacy of Kain : Soul Reaver (PS1)


Um ano depois que Blood Omen foi lançado a Crystal Dynamics começou a desenvolver uma continuação para a história, mas por causa de problemas com a Silicon Knights, a criadora do primeiro jogo, Soul Reaver foi lançado três anos depois. Apesar de toda a espera o game expande o mundo e a história de uma maneira surpreendente.

A história

No final do primeiro jogo Kain se vê em um grande dilema: salvar o mundo ao custo de sua vida ou se tornar um tirano e dominar uma terra devastada? A escolha foi bem óbvia.
1500 anos depois, com os pilares destruídos Nosgoth se tornou um lugar quase inóspito com Kain e seus sete generais no comando. Arrogante como sempre, Kain criou um santuário ao redor das ruínas e colocou seu trono bem onde se encontra os restos do pilar de Balance. Tudo ocorria "bem" com seu reinado de terror até que o seu general mais velho, Raziel, teve uma mutação: asas. Em um ato de raiva, Kain arranca os ossos das asas de Raziel violentamente e o condena ao Abismo, um redemoinho de águas em movimento perpétuo.
Um longo tempo se passa e no final Raziel não é destruído. Sua pele foi queimada como se estivesse em ácido e ele se tornou apenas um farrapo do que já foi um dia. Uma entidade que se autodenomina Elder God diz que ressuscitou Raziel como seu devorador de almas, Soul Reaver, para punir Kain por destruir o mundo. Mas para Raziel, sua própria vingança já é motivo o suficiente.



Mais uma história da série que começa com vingança e novamente não é tão simples quanto parece. Raziel explora cada canto de Nosgoth para se vingar de cada um dos seus irmãos, apenas para descobrir que com o passar dos anos eles se tornaram monstruosidades. Mas talvez isto não seja nada perto de uma revelação chocante que ele faz ao procurar por Kain e os planos que começaram a entrar em ação.
Enquanto Raziel viaja por Nosgoth, ele comenta sobre o mundo ao seu redor. Sobre como era, o que se tornou e como Kain distorceu cada um destes lugares. Sua raiva e seu ódio apenas aumentam a cada lugar, em seu desejo cego de destruir Kain.



O grande problema deste jogo é o final. No projeto estava previsto para o jogo ser um pouco mais longo, com dois chefes a mais e uma terceira luta contra Kain. Por problemas de tempo de produção e limitações do próprio sistema disponível na época o jogo foi dividido em dois e termina com uma situação muito anti-climax. Há toda uma expectativa e uma carga construída até aquele momento e o final falha em dar uma conclusão, apenas abrindo caminho para uma sequencia que só foi lançada dois anos depois.



O jogo

Este jogo foi acusado de ser um clone de Tomb Raider na época, por razões óbvias. Mas ao mesmo tempo ele é completamente diferente em vários aspectos. As sessões de plataforma e salto existem, mas são mais complexas que o seu Tomb Raider comum e o sistema de batalha é muito mais do que simplesmente correr e atirar, é consideravelmente mais violento.



Raziel tem suas garras para lutar e pode usar os elementos do cenário contra os inimigos. É possível usar armas espalhadas no local (cada uma com suas características), arremessar contra espinhos, usar tochas, jogar inimigos no sol ou em água entre outras pequenas coisas. Cada uma das áreas do jogo é dominada por um tipo diferente de vampiro, e cada um deles tem fraquezas de acordo.
Como uma criatura que devora almas, Raziel pode recuperar a energia se alimentando dos inimigos derrotados. Caso o corpo não seja destruído ou quando a arma é removida a alma pode voltar e o oponente pode voltar a vida ainda mais forte do que antes.
Durante o jogo, Raziel pode coletar atualizações para sua barra de energia ou novas habilidades como escalar paredes, imunidade a água e a Soul Reaver do título, que além de ser uma arma poderosa permite abrir certas portas mas só pode ser usada com energia cheia.



Outro ponto importante do jogo é que devido a natureza de Raziel ele pode se manifestar no plano físico onde os vampiros e humanos habitam, mas também no plano espectral. Neste plano o tempo do outro lado passa de uma maneira diferente e o ambiente inteiro muda. Certos caminhos são acessíveis apenas em um dos planos, plataformas se torcem e mudam de posição, lugares que cederiam com o peso de Raziel não são um problema uma vez que neste plano não há substância. Raziel pode ir para este plano quando quiser, mas para chegar no plano material apenas usando portais espalhados pelos lugares.
Esta parte faz parte da mecânica do jogo em vários sentidos, tanto para quebra-cabeças e caso a energia de Raziel acabe no plano físico (e decai naturalmente com o tempo), ele vai para o plano espectral. E se neste plano ele ficar sem energia, volta para a câmara onde o Elder God está e tem que fazer o caminho de volta.



As batalhas contra os generais são mais questão de saber a fraqueza e usar o local para acabar com ele do que enfrenta-lo em si. Os chefes são mais raciocínio e reflexo do que qualquer outra coisa e ao serem derrotados dão a Raziel alguma habilidade relacionada ao seu próprio clã. A única luta no sentido da palavra é contra o próprio Kain.



Claro que o jogo não é perfeito. Um dos problemas comuns do jogo do gênero é a mudança dos ângulos de câmera durante os saltos e este jogo não é exceção. Por mais que morrer seja difícil, algumas sessões são bem irritantes e há muitas tentativas para chegar onde precisa. Alguns erros obrigam a recomeçar uma sessão inteira e pode ser frustrante.



Há também uma quantidade enorme de sessões de empurrar caixas, aproximadamente vinte no total. A maioria não é necessário pensar muito, só empurrar até conseguir fazer alguma coisa funcionar mas esta solução não é o suficiente para duas delas. Depois de tanta repetição chega a ficar um tanto monótono, é quase como estar jogando sokoban. Menos sessões de empurrar caixas e câmeras um pouco mais inteligentes seria perfeito, algo que foi melhor trabalhado na sequencia.



Gráfico

Este jogo é praticamente uma obra de arte. Cada textura dos cenários foi cuidadosamente trabalhada, cada aspecto da arquitetura foi projetada para ser grandiosa e seguir cada um dos preceitos góticos. Nosgoth é quase como um personagem próprio.



Cada clã de vampiros é bem distinto e facilmente reconhecido. Existem também diferenças entre os mais novos e os mais antigos que são fáceis de ver e podem ser vitais na hora do combate. Os chefes são absolutamente grotescos, a violência gráfica é constante mas nada fora de proporção.



E toda esta qualidade gráfica em ambientes contínuos, sem loading ou demora. Não há uma única tela entre as fases, a exploração é livre e fluída. A transição do plano físico para o espectral ocorre em tempo real e o jogador pode ver o ambiente inteiro mudar e distorcer ao seu redor, se transformando drasticamente. A engine, uma modificação de Gex 3, é robusta e complexa, algo espantoso para o console.

Som

Assim como Blood Omen o elenco é maravilhoso. Simon Templeman e Anna Gunn retornam como Kain e Ariel. Tony Jay, que fez Mortanius no jogo anterior retorna como Elder God e Michael Bell faz um excelente trabalho como Raziel. Cada cena do jogo é dublada e assim como Kain, Raziel fala o tempo inteiro mas seus comentários são muito mais dramáticos e revoltados, bem diferente do ego de Kain que transparece a cada fala.



A música é discreta mas constante e muito potente. Cada ambiente tem sua própria trilha comum, uma para combate, quebra-cabeças e variações. No total são aproximadamente 11h de música no jogo inteiro.
O trabalho com o som ambiente também foi cuidadoso. Durante o jogo dá para ouvir diferentes tipos de passos, o som de água correndo, vento e outros tipos de efeitos, o que aumenta ainda mais a imersão.

Conclusão

Soul Reaver não é apenas um ponto de partida para algo maior, mas um marco em termos de tecnologia no Playstation. Com uma história poderosa e atuação acima da média, Soul Reaver é um destes jogos capazes de resistir a ação do tempo e está disponivel pela PSN.


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2 Comentários

  1. Sabia que esse jogo tem uma versão dublada brasileira?

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  2. Legacy of Kain: Soul Reaver é o primeiro game da série Legacy of Kain com gráficos tridimensionais. Antes dele, no jogo Blood Omen: Legacy of Kain, a visão era bidimensional e o jogador tinha a perspectiva aérea. Bastante aclamado pelo público e crítica, Legacy of Kain: Soul Reaver foi bem recebido também no Brasil, onde fez sucesso principalmente entre os jogadores de PC, graças a uma versão do game que contava com ótima dublagem em português. Infelizmente, essa dublagem se perdeu com o tempo, ficando exclusiva à versão do game em disco.

    Soul Reaver não tem gráficos modernos para a geração atual, mas o game ainda surpreende pelo design de fases e diálogos bem construídos. A história, cheia de intrigas é um dos melhores aspectos do jogo. Graças à dublagem excepcional e ótimo texto, não há diálogos chatos com explicações enfadonhas. Soul Reaver faz o jogador sentir-se como que lendo um livro de fantasia.

    A jogabilidade é outro destaque de Soul Reaver. Com ótimas mecânicas e comandos, o jogador pode pegar itens pelo cenário e usá-los como armas para empalar os inimigos. Os próprios inimigos também podem ser pegos e arremessados. A interação com o ambiente também se desdobra em vários puzzles espalhados pelo game. Na parte do design de fases, o que chama a atenção é transição entre o mundo espiritual e o mundo real. Vários puzzles só são solucionados quando o jogador consegue compreender que a parte que está faltando está em outro “plano”.

    Com uma ótima história, boa dublagem e excelente jogabilidade, Legacy of Kain: Soul Reaver é um desses jogos cult para computador que não pode faltar na coleção de verdadeiros gamers. Um detalhe curioso de Soul Reaver é que ele deixa o final aberto para uma continuação, o que passa longe de ser uma decepção.

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