Review - Disgaea: Hour/Afternoon of Darkness (PS2/PSP)



Quando falamos em "demônios" a primeira coisa que vem na cabeça são criaturas violentas e sinistras nos moldes de Shin Megami Tensei e pretexto para violência sem sentido como Devil May Cry , Shadow Hearts e inúmeros outros games.
E Tactical RPG sempre foi ligado a jogos como Final Fantasy Tactics, Tactics Ogre e outras guerras medievais, com alguns títulos ocasionais como Saiyuki: Journey to the West e Front Mission, mas sempre com um clima mais épico e dramático. Uma empresa pequena chamada Nippon Ichi lançou um jogo chamado Rhapsody: A Musical Adventure para o Playstation 1 e foi mais um destes jogos que fogem um pouco do estilo: o drama e a parte medieval continuam, mas o jogo parece mais uma animação da Disney, cheio de músicas cantadas e até mesmo com coreografia, mas apenas isto.
Anos depois, a mesma empresa lançou La Pucelle Tactics, o começo de uma série chamada Marl Kingdom para o Playstation 2 mas que ainda é restrito apenas ao Japão. Mesma coisa de sempre: medieval, luta contra demônios, igreja manipulando os fieis, nada de mais. Apenas com muito mais humor, umas situações absurdas e vários finais, que cativaram os jogadores mas com um sucesso moderado.
Então lançaram Disgaea : Hour of Darkness e tudo mudou completamente.

A história

Em um Netherworld muito longe (ou perto, quem sabe?) havia um grande rei chamado Krichevskoy. Um dia ele morreu em circunstâncias não divulgadas ao público e ninguém sabia onde estava seu filho, o herdeiro do trono, príncipe Laharl.
...Acontece que Laharl estava tirando um cochilo que era para durar alguns poucos meses e durou alguns anos. Sua vassala, Etna, teve alguns 'probleminhas' para acorda-lo (diga-se de passagem quase destruiu metade do quarto tentando). Nestas alturas do campeonato, todos achavam que o Laharl estava morto e começaram a lutar pelo trono, fazendo o Netherworld ficar ainda mais caótico. Só para deixar a situação um pouco mais animada, uma anjo de Celestia chamada Flonne foi enviada para matar o rei, apenas para descobrir que ele já estava morto.


Tudo isto daria para um tremendo jogo épico, se não fosse por alguns pequenos detalhes: Laharl é um pirralho mimado e egoísta que se comporta como um moleque de 13 anos, Etna só quer saber de avacalhar o príncipe e torturar seus capangas e Flonne tem cérebro de passarinho. E este trio pode ser a melhor chance do Netherworld reviver a uma grande conspiração.
Todos os personagens de Disgaea brincam com os estereótipos clássicos de anjos, demônios e heróis. Em várias ocasiões Laharl demonstra nojo contra sentimentos como "amor" e "amizade" e diz que uma boa gargalhada faz parte de ser um grande Overlord. Jennifer, a ajudante que parece uma típica loira burra seminua mas na verdade é um gênio. O demônio metido a elegante, belo e poderoso acaba levando uma sova e renomeado "Mid-Boss" por Laharl (para a tristeza do pobre infeliz). Os personagens são bem diferentes do que qualquer outro TRPG. Existem também duas personagens secretas dos jogos anteriores, Marjoly a vilã de Rhapsody e Prier, protagonista de La Pucelle.


O jogo desenrola como um anime de humor, cheio de situações simplesmente absurdas e hilárias, como picnics, super sentais e outros acontecimentos igualmente pirados. É quase impossível prever o que vai acontecer em seguida. As previsões dos próximos episódios são completamente insanas e não dizem absolutamente nada.
A história ainda conta com quatro finais que dependem de certos fatores como o numero de aliados mortos por friendly fire e outros quatro finais extras.

Na versão do PSP existe o Etna Mode, liberado após zerar o jogo principal uma vez. Este modo é separado da história normal e conta um pouco mais do passado da Etna, enquanto segue uma linha se ela fosse a heroína do jogo ao invés do Laharl depois de matar ele sem querer tentando acorda-lo. É bem mais curto que o jogo normal, mas além de explicar algumas coisas é bem divertido.


O jogo

É um TRPG com várias novidades. Para começar toda vez que um personagem vai atacar um inimigo com um golpe normal os aliados nos espaços adjacentes podem participar fazendo um combo (com graus de sucesso variados de acordo com as relações entre os personagens). As animações dos especiais são exageradas e aumentam a cada jogo que passa. Ao invés de "despachar" os personagens logo no começo da partida há um painel no chão que o jogador pode trazer qualquer personagem a qualquer momento para batalha, e também pode tira-lo da batalha são e salvo. Mas apenas 10 personagens podem participar da batalha, e se um morreu não pode enviar um personagem novo.


Existe a mecânica de pegar um personagem e arremessar longe ou ainda fazer enormes torres de personagens um em cima do outro, mas apenas cuidado ao lidar com os prinnies, eles podem explodir.
Outra mecânica única são os GeoPannels, quadrados coloridos no chão que tem efeitos diversos, sejam bons como experiência extra ou ruins como deixar o inimigo mais forte. O jogador pode anula-los, usar a favor ou destruir, depende de cada um.
Esta parte é ainda mais essencial no Item World, as dungeons aleatórias que podem ser usadas para dar level up nos itens também. Mas justamente por ser aleatória é bom ter um item para sair dela no inventário já que as vezes pode ter situações impossíveis de escapar e então o jogador tem que resetar o sistema.


Uma outra parte interessante é o Dark Assembly, uma espécie de "senado". Nele um personagem com Mana (não confundir com SP, que é usado para os especiais) adquirido ao derrotar os adversários pode propor coisas como abrir mapas extras, poder criar novas classes, inimigos mais difíceis e criar um membro novo para o grupo. Cada personagem novo se torna um "pupilo" e isto dá bonus para o criador além de outras pequenas coisas.
Depois de alcançar um certo nivel na Assembly o personagem pode transmigrar, ou seja, re-encarnar para o primeiro nível mas mantendo uma certa porcentagem do poder e das habilidades intactas, excelente para melhorar os personagens rapidamente ou mudar os personagens de classe. E são inumeras classes, há versões melhoradas das classes antigas e são liberadas por level up, outras só ao atingir certos niveis com certas classes e os monstros são normalmente liberados após derrota-los uma vez. Sim, monstros.


É um jogo que requer uma boa quantidade de tempo disponível, pelo menos no começo. Depois ao liberar mapas melhores para treinar fica bem mais fácil e os personagens podem atingir niveis muito altos como 9999 (sem brincadeira) mas que não são grande coisa perto dos chefes secretos. É tanta customização e treino de personagem que dá para consumir horas, além de fazer todos os finais secretos.


Gráficos

Os sprites são bem animados. Os personagens tem muitas animações para cada tipo de arma e habilidades e os monstros também foram caprichados. O design do Takehito Harada dá um ar completamente diferente de qualquer outro jogo do gênero.
As imagens dos personagens durante as conversações também foi uma novidade que acentua ainda mais a impressão de "anime" que o jogo tem.


Os cenários durante a batalha são em 3D e a câmera pode girar em um eixo horizontal. Há muitos elementos durante a partida e articulas enchem a tela o tempo inteiro. Um dos poucos pontos negativos é que a maioria das classes são apenas cores diferentes para os mesmos personagens, mas não é nada de mais já que é uma prática bem comum em RPGs e mesmo sem isto já existem muitos tipos diferentes.


Som

O jogo tem muitas falas. Todos os diálogos de história tem vozes e desde a primeira edição dá para escolher entre as vozes japonesas ou americanas. Este é um dos casos que a versão em inglês consegue ser tão boa ou até melhor que as originais e a tradução bem-feita também colabora. A partir de Disgaea 2 e na versão para PSP deste jogo a dubladora americana da Etna mudou para uma que tem uma voz quase idêntica, não fez muita diferença.


A música é composta por Tenpei Sato, outro que assim como Harada só passou a ter um certo reconhecimento após começar a produzir para a Nippon Ichi. São músicas animadas e tem ótimos arranjos, é difícil enjoar delas o que é vital para um jogo deste gênero. No original para PS2 a Atlus conseguiu licenciar duas músicas da banda punk rock Tsunami Bomb mas como a licença do jogo mudou para a NIS America estas músicas estão ausentes nas versões seguintes.

Versões diferentes

O jogo foi lançado originalmente para o PS2 e com o sucesso da série ganhou uma versão para o PSP e para o DS. No PSP, com o sub-título de Afternoon of Darkness, o jogo conta com o Etna Mode, modo multiplayer com batalhas ou venda de itens, dá para desligar as animações de batalha para um jogo bem mais rápido, a opção de enfrentar Adell e Rozalin de Disgaea 2 entre outras coisas.
A versão do DS conta com uma perda de qualidade gráfica e de alguns sprites, som pior e menos vozes. Na tela de baixo há um mini-mapa para ver o campo de batalha, é possível recrutar Adell, Rozalin e Plenair, além do Zetta de Makai Kingdom. Também existe os comentários dos prinnies narrando a história.

Conclusão

Disgaea : Hour/Afternoon of Darkness é um bom TRPG para quem tem tempo e paciência. As horas de treino são recompensadas com o modo história engraçado e exageros. A melhor versão é do PSP com seus extras, mesmo não tendo tudo. O sistema de batalha é inovador e fácil de aprender, ao mesmo tempo que tem técnicas avançadas apenas para jogadores mais experientes.


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