Dear Esther é mais uma experiência narrativa do que um game
em si.
O que eu quero dizer com isto? No sentido de game, Dear
Esther tem poucos elementos, o mínimo para dizer que se trata de um jogo: o
protagonista pode andar, explorando a localidade em uma ordem não-linear e desencadear
trechos da narrativa no momento que achar mais conveniente e conforme for se
deparando com eles. E também há a
possibilidade de se afogar sem querer, mas não há consequências para isto. Mas
é apenas isto: não se pode correr, também não há outros personagens para
interagir ou objetos para serem manipulados; há apenas uma paisagem bucólica e
abandonada, uma sensação extrema de solidão acompanhada de visuais sóbrios.
Em certos pontos o personagem lê as cartas escritas para a titular Esther, dando dicas vagas para o jogador das suas circunstancias
– que não são nem um pouco animadores. Os cenários, negligenciados por décadas,
contam a história de uma ilha abandonada que salvo por estranhos grafites fluorescentes
contendo formulas químicas e bactérias, além de estranhas frases com tom
sinistro e velas espalhadas pela ilha. Também há momentos de alucinações visual
que, somados a narração é subentendido que o protagonista não é confiável e que
não pode se acreditar em tudo em que ele fala. Em alguns momentos o jogador
pode ver figuras espectrais, o que leva a questão: estaria o personagem tendo
ainda mais alucinações ou não está sozinho?
O visual do jogo é muito bonito e realista, o que aumenta
ainda mais a sensação de desolação. O único momento em que houve uma quebra da
suspensão da realidade foi ao notar que algumas plantas movimentadas pelo vento
acabam ‘entrando’ nas encostas montanhosas, falhando no teste de clipping. Mas
é um pequeno detalhe se comparar com os visuais deslumbrantes. O ponto forte do
game é a atmosfera, e é algo angustiante.
As musicas são orquestradas, mas a maior parte do tempo são
discretas e não invasivas. Em alguns momentos o silencio é bem aplicado e há
apenas os sons dos passos do personagem e do vento, ampliando a sensação de
vazio.
E caso você esteja esperando um final feliz, não espere. Não
se trata de um jogo positivo. É uma história de alguém no final da vida. Dear
Esther convida o jogador a tirar as próprias conclusões : quem está contando a
história? O que aconteceu? Há mais de um final e nenhum deles é o ‘oficial’. É
algo que depende de cada jogador, assim como se trata de um bom jogo ou não:
para quem gosta de histórias, no sentido mais puro da palavra, pode ser algo prazeroso.
Mas quem quer um game no sentido mais tradicional - antagonistas, interações e ação
– não irá encontrar nada de interessante.
Extra:
Originalmente o game foi lançado como um mod para o source de Half-Life 2, então caso tenha interesse é possivel fazer o download da versão original de graça.
Ressalvas (com spoilers)
Este jogo pode não ser indicado para quem tenha tendências suicidas,
sinta-se desconfortável com descrições de infecção, afogamento ou acidentes de
carro.
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