Review - Shadow Hearts - PS2

Sempre houve jogos que foram obscurecidos por outros de maior peso lançado na mesma época. Alguns com razão e outros nem tanto. Este é um jogo que até tentou, mas teve o azar do distribuidor não investir nele e concorrer diretamente com um Final Fantasy.

A história

A história se passa alguns anos antes da Primeira Guerra Mundial, em uma época de tensão politica por toda a Europa. Yuri Hyuga é um jovem encrenqueiro, mal-educado e sempre fala o que pensa. Guiado por uma voz ele embarca em um trem com a missão de salvar uma garota que está sob a custódia do exercito japonês. Só que um homem misterioso, um "gentleman" também tem o mesmo objetivo e faz uma carnificina no local. Yuri então nos revela sua habilidade especial: ele é capaz de se transformar em um monstro. Apesar de tudo, ele perde a luta mas com uma surpresa do destino ele consegue fugir com a garota em seus braços.
Após um começo tumultuado, Yuri acaba se apresentando a jovem, chamada Alice, que também tem poderes sobrenaturais. E de repente os dois se veem fugindo do exercito japonês e do homem misterioso, que parecem ter algum interesse especial pela jovem, e principalmente de um terrivel feiticeiro taoista chamado Dehuai, que além de estar aprisionando as quatro feras das direções também parece ter algo contra o nosso herói rude. Qual o objetivos deles? Que tipo de poder tão especial Alice tem? Quem é Roger Bacon?


Isto é o máximo que se pode dizer sem dar muitos spoiler, a história é muito mais complexa que isto e cheia de reviravoltas. E quando tudo parece estar pronto para acabar, algo terrivel acontece e vira tudo pelo avesso.
Também há inúmeras histórias complementares, cada personagem do grupo tem muita coisa para contar: além de Yuri e Alice temos o sábio chinês Zhuzhen Liu; Margarete Gertrude Zelle, uma espiã famosa (e inspirada em personagem real); Keith Valentine o vampiro elegante e Halley Brancket, um garoto com poderes psíquicos. É um grupo eclético, mas nada fora dos padrões de RPG (e perto dos jogos seguintes não é nada).


Os personagens não jogadores são um show a parte: desde a dupla nipônica a tenente coronel Kawashima e seu ajudante Kato, os seguidores de Dehuai e Albert Simon, cada um tem seu momento de glória. Até mesmo os personagens menos importantes como LiLi e o mestre Xifa são bem desenvolvidos.
Existem dois finais: o "bom" e o "mau", e a única diferença é o que acontece após os créditos rolarem. Mas este trecho faz toda diferença.

O jogo

A parte de exploração do jogo é bem normal: temos um personagem 3D em um cenário 2D pré-renderizado, com itens encontrados tanto em formas de baú quanto itens escondidos em forma de pontos brilhantes ou quando Yuri indica que há algo por lá. Mas o diferencial do jogo fica mesmo é na batalha.
O sistema de batalha foi realmente revolucionário. A principio parece bem normal: uma batalha com turnos, menu no lado esquerdo, um cenário 3D com os inimigos também em 3D e os status no canto inferior direito. A novidade fica por conta do Judgment Ring e o SP. Este Judgment Ring é exclusivo de Shadow Hearts e aparece em certos mini-games e até em compra: o Judgment Ring é um circulo com seguimentos de cores diferentes e um ponteiro que roda em sentido horário, e para quando o jogador confirma com o X. Ao atingir os seguimentos coloridos e as áreas criticas (ou não) determinam o sucesso da ação. Para atacar os personagens tem 3 áreas de acerto, e ao acertar todas elas o personagem ataca as três vezes, mas se errar é de acordo com a quantidade de vezes que foram bem-sucedidas. Realizar magias e habilidades especiais também apresentam o Judgment Ring das mais variadas maneiras.


Outro aspecto bem único do jogo é o SP, ou "Sanity Points". A cada turno o personagem perde um ponto (ou mais de um quando o Yuri se transforma) e ao chegar no zero entra em estado Berserker, com direito a música diferente e ações imprevisiveis. Isto pode ser remediado ou previnido usando itens de cura. É claro que conforme os personagens vão evoluindo o SP e podem ficar mais tempo em batalha, então como sempre uma boa ideia é evoluir bem os seus personagens.
Ao terminar as batalhas o SP é completamente recuperado e o jogador recebe as almas dos monstros derrotados. Com estas almas é possível melhorar as transformações de Yuri e quando ele derrota uma fusão ele a adquire e pode usar em batalha, podendo equipar até três. Mas isto tem um preço: Yuri é amaldiçoado pelas máscaras e é assombrado pelos inimigos que ele derrota. Ele vai acumulando a energia do espirito vingativo deles, chamado "Malice", e ao chegar em um certo ponto a porta para a escuridão se abre e o ceifador aparece em uma batalha aleatória e Yuri deve enfrenta-lo sozinho (o que em geral pode ser a morte certa). Para evitar que isto aconteça, Yuri pode ver o estado da malice acumulada de acordo com a cor que o seu talismã está, e ao acessar o cemitério (que representa a própria alma dele) pode enfrentar um monstro que é toda a manifestação desta malice acumulada. Basta derrotar a criatura que o ceifador é evitado...Até a malice se acumular de novo.

Nas lojas o jogador pode acumular cartões de fidelidade e ao usa-los pode pegar descontos se for bem-sucedido em um Judgment Ring. O mesmo vale para conseguir super-valorização dos itens vendidos.
Existe também um sistema de acupuntura e massagem, que serve para melhorar as armas.

Gráfico

Esta é a única parte que o jogo peca. Os modelos e os cenários são apenas um pouco melhores que o de Playstation 1, sem muitas transparências e detalhes. O jogo foi lançado em 2001, e para o azar deles foi apenas umas poucas semanas antes de Final Fantasy X dar as caras, o que foi um desastre.


Tirando a baixa qualidade dos gráficos, os designs são bem inspirados: os cenários foram bem caracterizados e fieis a suas fontes originais, os monstros são tão horrendos que parecem terem fugido de um Silent Hill ou Parasite Eve, e os personagens jogáveis são bem marcantes. As transformações de Yuri são criativas, tirando uma secreta (que é horrível, mas na sequencia melhora)

Som

O jogo só tem vozes durante as lutas, em algumas cenas e nos vídeos. Na maior parte os diálogos tem balões com emoticons ajudando a realçar algumas reações ou emoções. A comparação com Final Fantasy X, que foi lançado na mesma época é inevitável.
Mas este jogo brilha mesmo é na trilha sonora. Os compositores são Yoshitaka Hirota ( que fez o design de som de Final Fantasy VI, VII e VIII, Live A Live, Chrono Trigger, Parasite Eve e Chrono Cross antes deste jogo) e Yasunori Mitsuda (Chrono Trigger, Chrono Cross e Xenogears). A trilha é simplesmente deliciosa de se ouvir com ótimas peças, é uma destas para ouvir e se emocionar. "Alice", "Icaro - Song of Spirits" e "N.D.E. - Near Death Experience" são três obras-primas dos games.

Veredito

Pode ser difícil dizer isto hoje em dia, mas quem não ligar para gráficos e quiser uma história excelente, um sistema interessante e balanceado com horas de diversão garantida, é este o seu jogo. Agora se for do tipo de torcer o nariz por qualquer gráfico menos evoluído, está perdendo um grande jogo.

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