A história
O jogo se passa aproximadamente 2000 anos após o Crystal Chronicles original. Neste meio tempo houve uma grande guerra entre os Lilty e os Yukes, e o cristal da tribo dos Yukes foi destruído, fazendo a raça inteira desaparecer do mundo. O Lilty como a única nação realmente unida prosperou e seu reino é o mais forte entre as 3 tribos sobreviventes (sendo os clavats e os selkies as outras duas tribos). Os pedaços dos cristais dos yukes são usados como meio de energia para equipamentos, desde metrôs e trens até airships desenvolvidas pelos lilty. A militarização dos lilty é muito forte e constante, os clavats se integram muito bem ao reino mas a guilda dos selkies se opõe abertamente mas não tem o poder ou a disciplina para enfrenta-los (e muito menos o desejo, preferem tirar proveito da situação).
Também começaram a nascer pessoas com cristais no corpo, chamados de Crystal Bearers. Com estes cristais, os bearers tem uma gama muito grande de poderes e muitos são temidos pelos outros, sendo hostilizados e até mesmo proibidos de usar seus poderes na cidade, uma vez que temem que usem seus poderes para abusar dos outros.
E é neste meio todo q entra Layle, um clavat crystal bearer com o poder de telecinese. Ele é uma pessoa cínica, mas sempre tomando a dianteira das coisas, e é um mercenário junto com seu melhor amigo Keiss, um selkie. Ambos são contratados para proteger a mais nova airship dos liltys, a nave de passageiros Alexis em seu voo inaugural. Mas é claro que coisas acontecem, e são atacados por zuus. Como se não bastasse, um portal se abre e um yuke aparece, domina Layle e usando um pequeno cristal verde suga a energia do cristal que move a airship.
É assim que começa a história de Crystal Bearers, o mais recente jogo da série Crystal Chronicles que tem pouco a ver com os anteriores. Você segue as aventuras de Layle enquanto ele tenta acertar as contas com o misterioso yuke que ele chama de Goldenrod (não falou o nome, ele inventou mesmo) enquanto é perseguido por Jegran, o líder da força militar dos lilty, só pelo simples fato de ser um Crystal Bearer.
Os personagens são na medida certa, até mesmo a garota chata não enche a paciência mais que o necessário e não chega a se tornar um estorvo como é comum em JRPGs. Nada de proteger a menininha, ou o amigo bobão que só faz besteira (mesmo porque o Keiss tem muita personalidade e ajuda em vários momentos em história). Todos eles tem personalidades consistentes, alguns mais inspirados que outros, são um elenco pequeno mas com força. Layle é um independente que prefere fazer acontecer; Keiss é um selkie que ao contrário dos outros tenta fazer um meio de vida na sociedade dos lilties, o que causa grande irritação do mestre da guilda, Vaigali, um selkie grande e expansivo, me lembra um irlandês; Belle a selkie que é fotojornalista sempre querendo seu grande furo (e lucrar muito com isto); Cid está de volta e mais estranho do que nunca; a misteriosa Amidatelion (ou misterioso, no começo usa uma armadura de yuke macho e depois usa uma feminina, mas tem voz de mulher e se dirigem como "ele" no jogo, vai entender); Althea, a princesa lilty que quer paz para o reino e tem uma certa queda por Layle; e Jegran, o alto comandante lilty que acredita que a força e o poder justificam tudo e a vitória em batalha é o que importa.
Um dos pontos negativos é que a história é muito curta. É uma história forte, intensa, mas em aproximadamente 20h é possível zerar o jogo na primeira vez, 9h sabendo o que tem que fazer. Por um lado é bom, caso o jogador não goste do sistema de batalhas e não há enrolação desnecessária, por outro é uma pena pois é fácil gostar dos personagens, é um mundo interessante e a história foi bem desenvolvida. Eu gostaria de ver mais sobre Layle, mas houve uma oportunidade desperdiçada pelos desenvolvedores; também faltou esclarecer se há uma ligação entre Keiss e Vaigali, algo que fica apenas sub-entendido. A história de amor nunca se desenrola devido a posição de Althea e a própria atitude de Layle. Mas fora isto, todas as pontas soltas que o jogo cria ele conclui, não deixando dúvidas mas ainda assim abre uma possibilidade para imaginar no final da história.
O jogo
Ao contrário dos outros da série, este jogo não tem uma história bonitinha e politicamente correta. Layle quer acertar as contas com Goldenrod e quer pura aventura, e mais tarde ele sente que deve um favor a Amidatelion, coisa que ele pretende realizar. Você passa a maior parte do jogo andando pelo mundo sozinho, a única possibilidade de multi-jogador é um amigo usar o segundo controle para ajudar com os poderes de Layle, mas isto é um pouco mais adiante.
O jogo se desenrola por eventos e mini-games de reflexos, utilizando os poderes de telecinese de Layle como fator principal. Existem raros boss fights que usam o sistema de luta do jogo, são apenas três (uau), o que já está de bom tamanho.
Para lutar, Layle não tem armas além de seu poder. Vc se move pelo campo com o control stick do nunchuk, aponta no objeto que vc quer mexer (pode ser alguma coisa ou um inimigo) e aperta "B" para encher a barra de 'lock-on' (quanto mais perto, mais rápido) e Layle pode levantar quando vc puxa o Wii remote na sua direção. Com A vc simplesmente solta o objeto, mas se vc mirar em algo e apertar o B, Layle irá arremessar o objeto naquela direção. Com um movimento rápido do remote para frente, Layle irá se envolver em um escudo telecinético e irá rolar para frente. O sistema é bem simples na verdade, não tem level up mas vc pode melhorar as habilidade e atributos dele usando acessórios como anéis.
Em momentos em que estiver andando pelo mapa, você irá ouvir a música parar e um som de contagem regressiva, no final da contagem, o céu ficará escuro e abrirá um campo de miasma. Ao contrário dos jogos anteriores, o miasma não causa dano, mas todos os personagens no mapa que não sejam Layle vão desaparecer, dando lugar a monstros. Para derrotar os monstros, você pode usar o poder diretamente neles, arremessando-os a esmo, contra os outros, arremessar objetos... O jogo abre muitas possibilidades, você pode jogar um cactuar dentro da boca de um Malboro e haverá uma reação. Jogar um besouro no outro faz eles formarem uma bola que você pode usar como boliche para acertar outros monstros. Mas há um tempo, ao final da música o miasma irá se fechar naturalmente e os monstros vão desaparecer. Se conseguir matar todos os monstros antes do miasma se fechar, Layle pode fechar o miasma com seus poderes e assim ganhar um ponto a mais na sua barra de HP (acredite, isto foi útil no final do jogo). É divertido no começo, mas com o tempo a menos que você esteja realmente querendo aumentar seu HP, conseguir extras ou coletar material para itens, é provável que passe correndo pelos mapas ou espere o miasma passar.
É um sistema de batalha do tipo ame-o ou odeie-o. Por mais que seja um sistema inovador e criativo, a falta de poder fazer um ataque diretamente é irritante. Aliás, o único ataque direto é se arremessar contra os inimigos (nem sempre possível) ou equipando um acessório em que você pode usar a esquiva para causar dano. Isto pode fazer os poucos boss fights mais demorados do que o necessário dependendo do seu nível de habilidade, e é a provável causa de muita gente se irritar com o jogo. Fora este problema, o sistema é administrável (mas é irritante faltar um ou dois monstros e o miasma fechar). Existem várias pequenas coisas que fazem você querer testar todas as possibilidades da batalha, mas é necessário uma certa paciência, reflexos e criatividade.
O mundo é inteiro interligado, tirando dois trechos em que você vai precisar pegar um trem. Depois de um certo ponto do jogo há a possibilidade de usar chocobos, pegar os trens administrados pelos selkies ou ainda portais para se locomover ainda mais depressa. Andando a pé sempre haverá baús espalhados pelo jogo (uma maneira de conseguir dinheiro) e pequenas coisas e mini-games para fazer, como salvar pessoas rolando colina abaixo (a primeira que provavelmente todo o mundo encontra é uma clavat que deixou cair uma caixa de abóboras e começa a cair ladeira abaixo em cima de uma delas), salvar pessoas de búfalos selvagens descontrolados, colher cenouras e cebolas de espantalhos mecânicos que soltam lasers pelos olhos e estão desregulados (criações do Cid por sinal) e por aí vai.
Montando no chocobo, dando o toque para frente o bicho dá turbo (infinito), ele pode cavar dinheiro e itens do chão e pode desmontar a hora que quiser. Você irá encontrar vários chocobos prontos para serem montados, e é de graça. Os monstros fogem ao ver um chocobo, eles não atacam.
O trem também é de graça e Layle irá ficar 1 minuto dentro, podendo interagir com o maquinista para ir imediatamente ao local, ou procurar baús e o moogle vendedor. É a maneira mais prática de se viajar.
Os shops são administrados por moogles. Você pode comprar materiais, joias (que custam gil), acessórios (que custam gils mais materiais) ou mudar a estampa das costas e da camiseta de Layle (que também custa materiais para fazer). Os acessórios pedem materiais especifico, que você consegue como drop dos monstros ou comprando com os moogles, e a ordem que você entrega os itens para o moogle pode resultar em um acessório diferente do inicial (em geral com algum atributo como auto-recover). Os moogles também tem um carteiro, que entrega os prêmios de missões (como as já citadas) e também entrega mensagens importantes dos outros NPCs, dizendo para onde ir em seguida.
Se você está perdido no jogo, basta apertar o 1 e ir em missions, há um resumo com o que está havendo e onde você tem q ir no mapa. Também pode ler as cartas enviadas, que normalmente ensinam onde ir no jogo, e ainda há Stiltzkin te dando dicas. Há apenas um momento que o jogo não fornece informações o suficiente, mas supõe-se que você faça ideia de onde fica, já que Layle já esteve lá. Esta talvez seja a única falha q eu encontrei neste sistema.
No jogo sempre há vários detalhes e pequenas coisas para fazer. Por exemplo, você pode nadar com os golfinhos no território selkie e ajudar uma pobre tartaruga que está sendo chutada por um babaca, um tesouro pirata escondido e existem duas maneiras de causar a fúria das garotas, tudo isto em uma só tela! Você não conversa com a maioria dos NPCs, mas vc pode causar várias reações diferentes, desde uma legião de fãs, medo e até uma turba de gente irritada querendo te acertar. Você pode até roubar velhinhos e moogles!
Há muito o que fazer, e o jogo tem um sistema de medalhas (alguém aí disse "achievements"?) mostrando tudo que já foi feito e as medalhas já descobertas liberam pistas do que são as adjacentes. Ainda bem que o jogo tem um sistema de New Game +, ou iria ser muito chato tentar tudo de uma vez só. Existem coisas óbvias, que são conseguidas durante a história como pegar carona em um zuu, outras é preciso um pouco de ingenuidade (como ser atropelado por um trem) ou ainda ler as dicas do menu.
Os gráficos
É um mundo muito rico visualmente, com belas texturas e modelos para todos os lados. As áreas do jogo são tão bem-caracterizadas como se fossem personagens. Alfitaria, a capital lilty, é uma metrópole ativa e movimentada, com metrôs para locomoção, muita gente por todos os lados interagindo entre si e objetos (móveis com sua telecinese). Bridge Town é a cidade do Cid, no meio do deserto, pequena e altamente industrializada, é um local para quem está procurando encrenca. No monastério você pode visitar o estábulo de chocobos, o cemitério e roubar a esmola da igreja (não estou brincando), há o campo de cerejeiras que é possível brincar de correr atrás das pétalas que caem suavemente no chão, vacas e carneiros pastam nas estradas, crianças brincam na praia. A guilda selkie fica em um navio encalhado semi-afundado e o vinhedo é de encher os olhos. Tudo isto sem loading.
Você pode ver os anéis e o brinco de Layle ao mover a camera, as transparências do cabelo dele são um show a parte. Ele tira o casaco e coloca chinelos e bermudas quando vai na praia e Belle coloca um casaco ao ir para uma área gelada. Tanto os NPCs de história quanto os comuns são ricos de detalhes e estão perfeitamente integrados ao seu ambiente
A batalha final é de encher os olhos, com várias particulas e muitas coisas acontecendo junto, o boss é gigantesco e há vários estágios para derrota-lo, com partes que é difícil saber se é CG ou se é um efeito in-game. Como era de se esperar, a Square fez outro trabalho lindo.
O som
Assim como o jogo é rico e variado, o som também é. Vai desde rock e techno até gaitas de fole, passando por country e música de surfista. São músicas que não cansam mesmo se você está há um bom tempo na mesma cena ou no mesmo local.
Os monstros tem sons genéricos, mas de boa qualidade. Acho que neste departamento não há muito o que fazer.
As vozes americanas são razoáveis. Layle tem uma voz marcante, Amidatelion tem uma voz calma e serena, Jegran dá para notar a força e o dublador soube colocar muito sentimento nela, houve um trabalho impecável. Já alguns dos personagens menos importantes apenas cumprem seu papel.
Já que é para reclamar de alguma coisa, pegar um trem para Moogle Forest é uma das coisas mais fofas e irritantes possíveis. Vem aquele monte de moogle na sua direção fazendo "ku-popo!" e quando você toca neles eles ficam "kupo! kupo! kupo!". Tá, não é uma reclamação válida, mas todo jogo tem q ter um pouco de reclamação em tudo não é mesmo?
Veredito
Em termos de história, eu diria q a série alcançou a maioridade.
Ring of Fates foi uma história muito boa, mas curta;
Echoes of Time foi uma história pseudo-profunda tentando brincar de looping temporal; Crystal Bearers tem uma certa profundidade que faltou nos outros, embora continua sendo curta. O sistema de batalhas poderia ser mais bem-acabado, eu senti muito a falta de uma arma para poder bater diretamente nos inimigos e não apenas arremessar coisas neles ou fazer eles atirarem neles mesmos.
Fora estas falhas, é um jogo muito divertido, focado em um jogador com uma história envolvente. Vale a pena ser conferido e jogado até o final (mesmo porque é um jogo rápido). Layle é um protagonista atípico da série Final Fantasy, e ele tem força para carregar a história. Os antagonistas também são bem-estruturados com ótimos motivos. O jogo é lindo, rico e cheio de possibilidades, com uma grande liberdade de movimento e o som está impecável.
Para quem tem um wii e gosta de RPGs, é um bom título e um bom FF.
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